Há cerca de três meses, entendi que poderia ser
para mim salutar, dedicar-me a escrever sobre mim e sobre a forma como vejo as
coisas. Como uma das principais vantagens teria aquilo a que chamei a
eliminação das minhas toxinas mentais (catarse, como diria certamente um
profissional).
Pensei que bastaria escrever só para mim, mas logo
percebi que se o fizesse também para os outros, obrigar-me-ia a ser mais
natural e mais claro nas minhas exposições. Um pouco como: ‘Se consegui
explicar a alguém foi porque entendi bem a lição.’
Por outro lado, teria o ganho das pessoas me
conhecerem melhor (para o bem e para o mal), fazendo com que não imaginassem
sobre mim o que quisessem e que soubessem que eu não penso delas o pior que
elas acham de si.
Tinha, contudo, que ser disciplinado sob pena desta
atividade terapêutica se vir a tornar num sol de pouca dura. Decidi então que
teria de me obrigar a escrever uma vez por semana, sem desculpas.
E eis-me aqui hoje, ao fim de quinze semanas, às
voltas, sem saber o que escrever.
Parece-me óbvio ser um erro, estar aqui a pensar
nos possíveis temas para o escrito da semana. O que faz sentido, sim, é anotar
os efeitos das minhas reflexões e, a partir destes, então compor um texto que,
por sua vez, terá associado um determinado tema.
O caminho da procura de um tema para apenas dizer
alguma coisa, só para cumprir calendário, é pois uma má abordagem. E
artificial, por quanto tento forçar aquilo que não é uma obrigação. Ao
contrário, parece-me que as coisas devem fluir dum natural pensamento para
depois serem arrumadas e assim expostas.
Como aliás em qualquer outra atividade que tenhamos
na vida. A nossa profissão, por exemplo, não deverá ser um conjunto de práticas
rotineiras movidas somente pela obrigação, pois logo se tornarão artificiais e
sem grande interesse, quer na execução, quer no resultado.
Estas, sendo artificiais (e consequentemente não
naturais) vão-nos adormecendo num quotidiano de repetições e comodidades que
nos vão consumindo a vida só por consumir.
Eis que surgem então as velhas máximas (tão velhas
que já em língua morta) como o Carpe Diem. E outras que nos fazem
ver que melhor do que fazermos aquilo que nos dá gozo é gostarmos daquilo
que fazemos. E daqui decorre uma maior qualidade do nosso trabalho.
Tal pode explicar dificuldades de eruditos ao porem
em prática as ideias estudadas, em oposição aos cultos que, após compreenderem
os vários aspetos que os rodeiam, têm, habitualmente, ideias próprias e
naturais.
Sei que o resultado do que é natural é melhor. Mas
sei também que sem a artificialidade do empurrar, as coisas não acontecem.
E lá vamos nós, uma vez mais, olhar o fiel a fim de
determinarmos proporções ideais. Como
que o ponto de gravidade que qualquer corpo tem.
A partir de hoje, vou passar a seguir este
princípio de me orientar, começando pelo que é natural para a seguir fazê-lo
acontecer através de imposições artificiais.
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