quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Carpen Diem com fiel


Há cerca de três meses, entendi que poderia ser para mim salutar, dedicar-me a escrever sobre mim e sobre a forma como vejo as coisas. Como uma das principais vantagens teria aquilo a que chamei a eliminação das minhas toxinas mentais (catarse, como diria certamente um profissional).

Pensei que bastaria escrever só para mim, mas logo percebi que se o fizesse também para os outros, obrigar-me-ia a ser mais natural e mais claro nas minhas exposições. Um pouco como: ‘Se consegui explicar a alguém foi porque entendi bem a lição.’

Por outro lado, teria o ganho das pessoas me conhecerem melhor (para o bem e para o mal), fazendo com que não imaginassem sobre mim o que quisessem e que soubessem que eu não penso delas o pior que elas acham de si.

Tinha, contudo, que ser disciplinado sob pena desta atividade terapêutica se vir a tornar num sol de pouca dura. Decidi então que teria de me obrigar a escrever uma vez por semana, sem desculpas.


E eis-me aqui hoje, ao fim de quinze semanas, às voltas, sem saber o que escrever.

Parece-me óbvio ser um erro, estar aqui a pensar nos possíveis temas para o escrito da semana. O que faz sentido, sim, é anotar os efeitos das minhas reflexões e, a partir destes, então compor um texto que, por sua vez, terá associado um determinado tema.

O caminho da procura de um tema para apenas dizer alguma coisa, só para cumprir calendário, é pois uma má abordagem. E artificial, por quanto tento forçar aquilo que não é uma obrigação. Ao contrário, parece-me que as coisas devem fluir dum natural pensamento para depois serem arrumadas e assim expostas.

Como aliás em qualquer outra atividade que tenhamos na vida. A nossa profissão, por exemplo, não deverá ser um conjunto de práticas rotineiras movidas somente pela obrigação, pois logo se tornarão artificiais e sem grande interesse, quer na execução, quer no resultado.

Estas, sendo artificiais (e consequentemente não naturais) vão-nos adormecendo num quotidiano de repetições e comodidades que nos vão consumindo a vida só por consumir.

Eis que surgem então as velhas máximas (tão velhas que já em língua morta) como o Carpe Diem. E outras que nos fazem ver que melhor do que fazermos aquilo que nos dá gozo é gostarmos daquilo que fazemos. E daqui decorre uma maior qualidade do nosso trabalho.

Tal pode explicar dificuldades de eruditos ao porem em prática as ideias estudadas, em oposição aos cultos que, após compreenderem os vários aspetos que os rodeiam, têm, habitualmente, ideias próprias e naturais.

Sei que o resultado do que é natural é melhor. Mas sei também que sem a artificialidade do empurrar, as coisas não acontecem.

E lá vamos nós, uma vez mais, olhar o fiel a fim de determinarmos proporções ideais. Como que o ponto de gravidade que qualquer corpo tem.

A partir de hoje, vou passar a seguir este princípio de me orientar, começando pelo que é natural para a seguir fazê-lo acontecer através de imposições artificiais.

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