Mais
tarde ou mais cedo, irá acontecer.
E
eu, como muitos, vou esperando que o dia passe. Que mais um dia passe. Quantos
mais? Quanto tempo mais?
Hoje
tenho três reuniões que ainda preciso preparar e um almoço que me é importante.
Hoje não me dá jeito. Não tenho vagar. Vou ter que deixar para amanhã ou, se
calhar, para um outro dia.
Vivemos
num termo algures entre o conformados e o enganados. Mas enganados por nós
próprios. Por ser mais fácil arranjar falsas explicações que nos convençam estarmos
bem, do que nos fazermos melhores pessoas.
Não
conheço quem não diga viver na melhor terra, no melhor bairro. Ter o melhor
médico (todos eles chefes de serviço no hospital). Os filhos na melhor escola
(onde também anda a filha do ministro).
Dizer
o contrário seria como que admitir o erro próprio. O ter falhado. E não
alimentar a crença naquilo que nos faz felizes. Não poder ser reconhecido pelos
outros.
Mas
um certo fel me vai invadindo o paladar do espírito. Um estado de angústia
crescente que finjo não entender só porque, hoje, não tenho tempo. Ou o tempo
que não tenho é inventado para que não tenha que entrar nesta arena e conseguir
vencer mais esta fera do momento.
Estas
interrupções de emoções e instintos comutadas em exercícios da razão são, a meu
ver, contranatura. E por isso as adiamos na esperança vã de que a vida nos resolva
as vontades.
No entanto, quanto
mais tempo passa mais flacidez é acumulada na nossa mente. E, consequentemente,
o inevitável será sem dúvida mais sofrido.
O
que fazer então? Que ideia ter quando nem mais um sal se dilui e o nível de
saturação parece já ter atingido o seu máximo.
Chegámos
a um ponto em que urgem pensamentos estranhos. É hora de ideias absurdas. Tanto
quanto um ovo convenientemente rachado garante o próprio equilíbrio.
A
imitação ou mesmo a adaptação das ideias alheias não bastam nem resultam senão
na confirmação do esgotado.
O
conceito do reinventar que tanto se vai usando nos dias de hoje, já não tem lugar
eficaz. Teremos mesmo que inventar, como que do zero.
De nada serve mudarmos de morada, trabalho ou
mesmo de amigos. A solução tem que passar por vivermos de uma outra forma. Mais
ainda que olharmos a vida de uma outra perspetiva, temos que a viver duma maneira
que ninguém ainda conhece. Ou porque realmente nunca existiu ou porque aqueles
que conheceram essa fórmula, já há muito partiram e não deixaram experiências
que a civilização apagou.