São
duas e trinta e seis da manhã. Acordei há pouco com uma luzinha que piscava no
telemóvel, avisando uma mensagem sua, a lembrar-me o seu aniversário.
Quando
acordo assim de noite fico às voltas na cama a tentar voltar a adormecer. E acabo
por me levantar e passar pela cozinha em revista ao frigorífico, na esperança
dum copo de leite que me sossegue o vazio que sinto no estômago.
Como
amanhã não trabalho (quer dizer, hoje) dou um pulo à sala e reparo na sua
fotografia a sorrir para mim. E,
uma vez que não devo ter oportunidade de me encontrar consigo durante o dia, para lhe dar um beijo de parabéns, aproveito esta insónia para lhe escrever a
contar as novidades que já há muito não dou.
É
certo que o trabalho não me tem dado grandes tréguas, o que sempre ajuda a
esquecer as saudades. Mas
também fui aprendendo ao longo deste tempo a lidar com a sua ausência. A aprender
a que não me fizesse falta.
É
verdade que me recordo, com um sorriso que não consigo disfarçar, das pequenas coisas que nos fazia (a mim e aos manos).
Do
beijo de boa noite e do bom dia sussurrado ao ouvido ao acordar-me com uma
festa na cabeça. Das
delícias que nos preparava. As laranjas de gelatina, aquelas bolinhas de
chocolate às quais chamava Eduardos
Nascimentos. As pilhas de banana, marmelada e queijo com um palito
espetado. As fatias recheadas (não as douradas, recheadas com carne). O leite condensado em caramelo na porta do
frigorífico.
Do
que nos ensinava. Os bolos com farinha peneirada. Aquela seringa que criava
várias formas de bolachas de manteiga. Os torrões do açúcar amarelo na caixa
azul da despensa. As bolachas Taratas
compradas na Manutenção Militar.
Da
mascarilha e da capa de Zorro feitas
das suas habilidades, à noite, já tarde, cansada, porque era absolutamente
urgente que eu as levasse no dia seguinte para a escola.
Das
árvores de Natal e do presépio que nos ensinava a fazer juntos. Em família. Das
partidas e brincadeiras que nos mostrava. Do humor que moldou em mim.
Com um sorriso
que não consigo disfarçar, mas que se transforma em olhos turvos, como se gotas
de chuva na janela pela qual olho sem ver lá fora. Enquanto
reparo no que hoje sou, fruto do que deixou seu, em mim. Na coragem e na força
que teve que ter para conseguir viver amputada dos seus filhos.
A
falta que faz já não é a mim. É aos meus filhos. Quando os olho hoje a
crescerem sem a mãe deles por perto. Só porque houve um pai que achou que lhes
queria dar o melhor.
Eu
o pai. Eu o melhor?
Eu
a tentar substitui-la, não em mim, mas nos seus netos. Eu a tentar ser a Mãe
que me fugiu e que eu ainda não deixei partir. Nem nunca vou deixar.
Parabéns avó, mãe.. que estavas e estás. Presente por um pai. O melhor.
ResponderEliminarDemais!
ResponderEliminarLindo!!! Chorei...não só porque hoje é o meu aniversário como é o dia do Grande Amor da minha Vida que já não está comigo...a minha querida Mãe. Obrigada por isto :)
ResponderEliminarAntes de mais, muitos Parabéns pelo seu dia. E muito obrigado pelas suas palavras. É muito, muito bom,quando ficamos com a companhia de alguém para... sempre. Sobretudo quando se trata da nossa Mãe.
EliminarReli... Sinto-me feliz por conhecer, através de ti, a minha sogra. Já aprendi imenso com ela :) e aproveito para lhe agradecer. Feliz aniversário, tia Lourdes.
ResponderEliminar