Aquando da minha candidatura à faculdade tive que
preencher uns quantos impressos. Um deles perguntava-me qual a razão de me
propor ao curso por mim escolhido. A minha resposta foi tão simples quanto
sincera: ‘Porque acho que posso e quero ajudar pessoas e empresas a fazerem
melhor os seus trabalhos.’
Mal sabia eu que um dia viria a ser tratado pelo
pomposo
(na altura)
nome de consultor.
Este era um termo que me parecia ser condensador
daquilo que eu realmente queria ser. Alguém que, por ter desenvolvido o
conhecimento numa determinada área, poderia aconselhar outros nas suas
atividades cujo objeto principal não permitia o investimento na aquisição mais
aprofundada de competências adjacentes.
Ao longo dos tempos do exercício da minha profissão,
muito aprendi. Aprendi que alguns dos princípios e valores que me tinham sido
passados desde sempre seriam prejudiciais ao sucesso numa carreira de
consultor.
Pareceu-me então oportuno aqui deixar alguns exemplos
que possam vir a ajudar aqueles que desejem abraçar tão distinta filosofia de
vida.
Algumas regras sociais antiquadas como:
«Os mais novos levantam-se para cumprimentar os mais
velhos»
ou
«Os homens levantam-se para cumprimentar as senhoras»,
enquanto que
«As senhoras esperam sentadas o cumprimento dos
homens»,
devem ser excluídas do dia-a-dia do verdadeiro
consultor.
Lembre-se sempre que algumas mulheres vêm estes tipos
de gestos como sinal de as quererem rebaixar, muito embora, quando se lembram
que, para além de mulheres também gostam de ser mimadas, apreciem estes gestos
de atenção.
Talvez um pouco como o decidir que a existência de um
talher de peixe é uma perfeita aberração, mas nunca esquecer, quando se vai
jantar ao restaurante japonês da moda, de utilizar os famosos pauzinhos,
abraçando dessa forma a cultura nipónica.
Caso tenha aspirações a chefe, nunca se rebaixe (muitas
vezes) a dizer bom dia, pedir desculpas ou dizer por favor. Estas são posturas
que enfraquecem a sua imagem junto dos clientes e equipas. E, como é sabido,
mais vale parecer-se inteligente e ficar calado do que abrir a boca e desfazer
uma boa imagem (tanto como ser burro e calado ficar em vez de abrir a boca e
confirmá-lo).
Em aparente contradição ao exposto acima, numa
reunião, nunca se esqueça de dizer umas frases em linguagem corporativa, mesmo
que não tenha opinião formada sobre o assunto em debate.
Use sempre vestuário formal (fato, gravata na hipótese
masculina) se possível de boa marca que sempre cai melhor e dá um ar mais distinto.
Isto é fundamental para intimidar as pessoas e atrasar o mais possível
eventuais sinais de pessoa normal.
Seja sempre cordial com os subalternos, mas trate-os
com firmeza (afinal eles são seus novos-escravos da atual sociedade).
É fundamental ser atencioso e interessado quando
conhecer novas pessoas, mas não perca tempo com elas, caso verifique não serem
importantes para os seus objetivos.
Opine muito sobre o que aconteceu no passado,
referindo o que foram boas decisões (e.g. abolição da escravatura ou a não
discriminação de homossexuais), mas evite dar opiniões sobre o presente ou
futuro (é que pode falhar e depois fica-lhe mal).
Por ter sido eu, a maior parte das vezes natural e
espontâneo, fui contemplado com soslaios de colegas incomodados. Mas felizmente
não deve ter sido por razões de trabalho, senão teriam, com certeza, sido
abordadas profissionalmente.
Tive e tenho ainda a oportunidade de reparar nestes e muitos outros
comportamentos, pese embora o facto de me ter que remir e confessar ter falhado
redondamente no cumprimento daquela que achava poder ter sido a profissão mais
bonita que um dia escolhi.
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