domingo, 19 de outubro de 2014

Receita infalível para o sucesso

Aquando da minha candidatura à faculdade tive que preencher uns quantos impressos. Um deles perguntava-me qual a razão de me propor ao curso por mim escolhido. A minha resposta foi tão simples quanto sincera: ‘Porque acho que posso e quero ajudar pessoas e empresas a fazerem melhor os seus trabalhos.’
Mal sabia eu que um dia viria a ser tratado pelo pomposo
(na altura)
nome de consultor.
Este era um termo que me parecia ser condensador daquilo que eu realmente queria ser. Alguém que, por ter desenvolvido o conhecimento numa determinada área, poderia aconselhar outros nas suas atividades cujo objeto principal não permitia o investimento na aquisição mais aprofundada de competências adjacentes.
Ao longo dos tempos do exercício da minha profissão, muito aprendi. Aprendi que alguns dos princípios e valores que me tinham sido passados desde sempre seriam prejudiciais ao sucesso numa carreira de consultor.   
Pareceu-me então oportuno aqui deixar alguns exemplos que possam vir a ajudar aqueles que desejem abraçar tão distinta filosofia de vida.
Algumas regras sociais antiquadas como:
«Os mais novos levantam-se para cumprimentar os mais velhos»
ou
«Os homens levantam-se para cumprimentar as senhoras»,
enquanto que
«As senhoras esperam sentadas o cumprimento dos homens»,
devem ser excluídas do dia-a-dia do verdadeiro consultor.
Lembre-se sempre que algumas mulheres vêm estes tipos de gestos como sinal de as quererem rebaixar, muito embora, quando se lembram que, para além de mulheres também gostam de ser mimadas, apreciem estes gestos de atenção.
Talvez um pouco como o decidir que a existência de um talher de peixe é uma perfeita aberração, mas nunca esquecer, quando se vai jantar ao restaurante japonês da moda, de utilizar os famosos pauzinhos, abraçando dessa forma a cultura nipónica.
Caso tenha aspirações a chefe, nunca se rebaixe (muitas vezes) a dizer bom dia, pedir desculpas ou dizer por favor. Estas são posturas que enfraquecem a sua imagem junto dos clientes e equipas. E, como é sabido, mais vale parecer-se inteligente e ficar calado do que abrir a boca e desfazer uma boa imagem (tanto como ser burro e calado ficar em vez de abrir a boca e confirmá-lo).
Em aparente contradição ao exposto acima, numa reunião, nunca se esqueça de dizer umas frases em linguagem corporativa, mesmo que não tenha opinião formada sobre o assunto em debate.
Use sempre vestuário formal (fato, gravata na hipótese masculina) se possível de boa marca que sempre cai melhor e dá um ar mais distinto. Isto é fundamental para intimidar as pessoas e atrasar o mais possível eventuais sinais de pessoa normal.
Seja sempre cordial com os subalternos, mas trate-os com firmeza (afinal eles são seus novos-escravos da atual sociedade).
É fundamental ser atencioso e interessado quando conhecer novas pessoas, mas não perca tempo com elas, caso verifique não serem importantes para os seus objetivos.
Opine muito sobre o que aconteceu no passado, referindo o que foram boas decisões (e.g. abolição da escravatura ou a não discriminação de homossexuais), mas evite dar opiniões sobre o presente ou futuro (é que pode falhar e depois fica-lhe mal).
Por ter sido eu, a maior parte das vezes natural e espontâneo, fui contemplado com soslaios de colegas incomodados. Mas felizmente não deve ter sido por razões de trabalho, senão teriam, com certeza, sido abordadas profissionalmente.  
Tive e tenho ainda a oportunidade de reparar nestes e muitos outros comportamentos, pese embora o facto de me ter que remir e confessar ter falhado redondamente no cumprimento daquela que achava poder ter sido a profissão mais bonita que um dia escolhi.

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