Hoje lembrei-me de ti. Não porque faças anos. Nem porque
seja Natal ou qualquer outra data obrigatória. Nada preciso pedir-te ou
combinei contigo. Apenas me lembrei de ti.
Não sei exatamente porquê. Talvez porque um dia me
disseste aquilo. Lembras-te? Aquilo que eu precisava ouvir e nem sequer o
imaginava. E, no entanto, depois de o dizeres, pareceu-me tão óbvio. O teres
reparado. O teres-me feito sentir bem. Com algum valor. O reconhecimento que
outros não notaram, o conforto que me criaste.
Hoje lembrei-me de ti.
Porque um dia deixaste uma marca em mim, dando-me uma
parte de ti. E assim, de algum modo, ficaste (para sempre) comigo, algures num
contorno da minha própria forma.
Alguns teriam dito 'Ultimamente não tenho tido muito
tempo para amizades, pois tenho andado ocupado com os ódios do quotidiano.'
Mas tu, não. Tu deste, sem pedir de volta. Sem esperar
alguma coisa em troca. Porque preferes dar, do que receber. E ainda preferes
que eu cuide melhor de mim do que de ti.
Contigo aprendi que a amizade não se procura nem se
encontra. Nós sim, somos por ela encontrados. E eu fui encontrado pela tua.
Por ti, descobri que a amizade não acontece. Pratica-se.
Com uma capacidade que ou temos ou não queremos.
Sinto a tua amizade, não tanto pelo que me dás, mas pelo
que me ensinas de mim. Reparo como falas bem dos teus amigos na sua ausência e
sei que o fazes também comigo. A tua amizade existe por aquilo que me deste.
Não pelo muito que ainda me podes vir a dar. Ao mesmo tempo fazes-me sentir
parte de ti. Como se as nossas maneiras de ser se intersetassem. Como se já
antes nos conhecêssemos e pouco precisássemos dizer para nos entendermos.
Sinto que o tempo e distância que nos têm separado não
prejudicam a nossa amizade. E isto, porque nós não nos usamos para ocupar os
nossos tempos livres. Só para ir ao café ou jantar fora. Por não temos caído
nas rotinas que exigem mais um do outro, como que um querer esgotar o que outro
tem (não vá a vida acabar amanhã). Ao contrário, nós procuramo-nos quando temos
assunto para preencher o nosso tempo. Para entregarmos um ao outro mais um
pouco de nós. Para exercer a prática daquilo que nos vai mantendo Amigos.
Hoje apeteceu-me falar contigo...
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